
Cheguei em Chalten derrotada com os dois dias de porteio que eu e Sblen fizemos. Uma notícia boa, mas nem tanto, me esperava e foi só ver o brilho nos olhos do Berna para saber que tínhamos uma janela pela frente. O problema era que a janela requeria que a gente começasse a subir no dia seguinte e apesar de minha mente e coração dizerem sim, meu corpo dizia não!
Fui dormir com a grande dúvida se eu ia ou não escalar. A janela era boa, muito boa! Era, na verdade, uma janela perfeita para tentar a Claro de Luna, na Saint Exupéry, uma via de 800 metros com dificuldade constante de 6º, muitos 7º e crux de 7c. Mas meus pés reclamavam das bolhas e meu corpo inteiro doía. Será que eu iria conseguir escalar desse jeito? Minha mente fervilhava com essa questão, mas não demorou muito para o cansaço vencer e eu cair em um sono profundo. No dia seguinte, não tive dúvidas que iria tentar. Não sabia se ia conseguir ou não, muitas coisas me diziam que não, mas queria tentar de qualquer jeito. Conversei com o Berna sobre isso e ele topou subir comigo assim mesmo. Sblen, com os pés destroçados de tantas bolhas sinistras, não iria com a gente.
Arrumamos as mochilas e partimos para Bridwell, um acampamento a 2 horas de Chalten. Minha mochila pesava muito no meu corpo cansado. Não é que ela estivesse muito pesada, afinal o Bernardo estava com uma mochila bem mais pesada do que a minha, mas eu estava acabada. Mas chegamos em Bridwell, comemos e dormimos para sair no dia seguinte para o próximo bivaque, no pé da Saint Exupéry.

O primeiro glaciar passou rápido. As gretas eram bem visíveis e Berna conhecia bem o caminho e depois de muito pula greta e sobe e desce, a gente chegou na morena que liga esse glaciar ao segundo glaciar (o da Adela).

O vale do Torre está incrustado entre o cordão do Fitz e o cordão do Torre e é por ali, nessa meiuca de montanhas maravilhosas, que percorríamos os últimos quilômetros de glaciar e morenas para chegar a Nipo ninos.

O despertador tocou às 5 horas da manhã. Nossa noite não havia sido das melhores, pois as diversas pedrinhas presentes no chão não deixavam nossa “cama” tão confortável quanto gostaríamos. Mesmo sem vento, o frio era grande e sair do calor do saco de dormir era o primeiro desafio do dia. Logo começou a clarear e pudemos desfrutar de um lindo amanhecer, um dos mais bonitos que já presenciei. Estávamos alto no vale do Torre e era ele mesmo, imponente do outro lado do vale, que nos mostrava em seus íngrimes paredões rochosos os primeiros raios de sol.
Engolimos nosso café da manhã e fomos para a escalada. Chegamos na base e já tinham duas cordadas na nossa frente, éramos a terceira cordada na mesma via. Longe de ser o ideal em um lugar comum, essa colocação pode ser um pesadelo na Patagônia. O casal que estava na frente escalava relativamente rápido, mas demorava horas nas paradas e nos procedimentos. Já na primeira parada da via, ficamos mais de uma hora esperando no frio. Eu e Bernardo nos entre olhamos e falamos: vamos para o cume!
Revezamos algumas poucas enfiadas.




Chegamos ao cume as 7:30 da noite, muito felizes! Dali, a vista era maravilhosa: ao leste, Chalten nos dava as boas vindas; ao Sul, a pequena de La S nos avisava que estávamos ainda bem alto e que isso era metade do caminho; ao Norte, o Fitz imperava sobre todos nós, e ao oeste, o vale do Torre nos chamava de volta. Mal ficamos no cume, pois tínhamos um longo caminho até o bivaque e queríamos aproveitar cada segundo de luz.
Rapelamos como escalamos: com eficiência e segurança. Eu abrindo o rapel e Berna me seguindo com a mochila (por fim, me livrei dela!). Chegamos na base do rapel e escureceu, eram 11 horas da noite. Ainda tínhamos um bom caminho desconhecido até o bivaque, que percorremos com segurança, montando rapeis para passar as partes mais complicadas e descendo cada metro com muita atenção.

Chegamos ao bivaque a 1 da manha, exaustos e felizes. No dia seguinte, voltamos os 20km até Bridwell. A ideia era passar reto e ir para Chalten, mas a barraca nos “engoliu” e resolvemos ficar por ali mesmo e continuar o caminho no dia seguinte. Vimos as fotos de todas as aventuras até então, relembrando momentos preciosos e engraçados enquanto escutávamos e cantávamos Legião, Paralamas e outros sucessos da década de 80 no Ipod do Berna.
A sensação era maravilhosa: havíamos escalado uma via incrível que já foi considerada uma das 10 melhores do mundo e tudo tinha dado certo. Aprendi muito sobre superação, pois realmente não sabia se iria conseguir fazer essa escalada pelo estado desgastado em que me encontrava, mas minha determinação falou mais alto e consegui ir além dos meus limites. Aprendi muito sobre parceria na montanha, pois não teria conseguido se não fosse a ajuda do Berna que além de ter carregado mais peso, me rebocado no final da escalada, me estimulava a continuar com sua determinação, energia positiva e vontade de chegar ao cume. Valeu, Berna!!!!!!!!!
Equipo:
Friends: 1 jogo de camalots até o camalot 4 , (incluindo os pequenos e o 00) e repetindo do 0.75 até o 3.
1 jogo de Nuts
2 cordas duplas
16 costuras
Cordeletes para abandono
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